SEXTINA DO FIM


Há muito a madrugada escoa lenta
e a noite sempre traz essa catarse.
Arautos trazem novas da tormenta,
porém não há maneira de afastar-se
da forte sensação que representa
a luz que não permite ter disfarce.

Quisera conhecer algum disfarce,
fugir dessa agonia, a morte lenta
que a farsa muitas vezes representa,
enquanto não vivemos a catarse
e a alma, relutando em afastar-se
revive toda a angústia da tormenta.

Se a alma experimenta essa tormenta
e sobrevive à custa de um disfarce,
por que não partir logo e afastar-se
daquilo que a corrói de forma lenta?
Convém notar a força da catarse
que o pranto muitas vezes representa.

Nem sempre a alegria representa
o estado mais real, pois a tormenta
é forte e nos elide... Se a catarse
se apóia na euforia, um bom disfarce,
o riso sobre a dor não vence a lenta
vazão das horas, sempre a afastar-se.

É triste quando o amor, ao afastar-se,
não vai embora e ainda representa
algum valor, deixando-nos a lenta
e atroz tortura, escura qual tormenta
e, por não permitir nenhum disfarce,
nos rouba a chance de qualquer catarse.

Apenas através dessa catarse,
libero a dor que sinto ao afastar-se
o amor, e já sem ter nenhum disfarce,
em mim contenho a dor que representa
a prova atroz da solidão...Tormenta
em que me afundo e vai crescendo, lenta...

Nessa noite lenta eclode a catarse:
chega essa tormenta e ao afastar-se,
ruge e representa o fim do disfarce.



nilzaazzi.blogspot.com.br