"Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
(...)
Elas são muitas,
eu pouco..."
(Drummond)
O POETA E AS PALAVRAS [2]
Liberta-se o poeta quando mergulha
No mistério da combinação das palavras...
Procura-lhes elos de harmonia e simbiose,
Transformá-las em conversa de comadres.
Nos invernos de criação, nas noites improdutivas,
Varre as lascas das frases mal acabadas,
Repete sons em voz alta, pensa sem método,
Rabisca figuras nos cantos da página branca.
As belezas do mundo, as dúvidas da alma,
Seus tesouros perdidos e feitos imaginários
Jazem guardadas numa arca de palavras...
Dela o poeta tenta retirar, incansável,
Resíduos preciosos, por horas e horas,
Valendo-se de uma pinça mágica...
Escreve sem parar! Febril!
Precisa cantar seu amor e solidão,
Depurar seu espírito,
Colorir seus medos,
Adocicar seus enredos...
Intenta, a cada dia, uma boa criação,
O parto natural da poesia instintiva.
O poeta, mesmo insone e entorpecido,
Persegue a saga da pena:
Falar com a página em branco,
Arrancar-lhe a voz!
* imagem: Chariklia Zarris
O POETA E AS PALAVRAS [1]
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