Estranheza
voei com as asas da panela
atravessei o rio sem molhar os pés ou as mãos,
a extensão das águas parecia não ter fim
do outro lado, do lado de lá,
meus olhos estorvados de medo
avistaram a azagaia fincada no chão
pensei comigo mesmo que o mau já tivesse morto,
rendido, dos pés à cabeça.
no último instante, quase noite,
percebi que o bicho não era um ser terrestre
que estava grudado em mim como uma cicatriz
eu e ele, irmãos gêmeos, carne e unha
parecíamos seres virados do avesso
quem nos vissem ali, em cima do monturo,
haveria de perceber que eu e minha sombra
éramos uma caricatura da realidade