Estranheza

voei com as asas da panela

atravessei o rio sem molhar os pés ou as mãos,

a extensão das águas parecia não ter fim

do outro lado, do lado de lá,

meus olhos estorvados de medo

avistaram a azagaia fincada no chão

pensei comigo mesmo que o mau já tivesse morto,

rendido, dos pés à cabeça.

no último instante, quase noite,

percebi que o bicho não era um ser terrestre

que estava grudado em mim como uma cicatriz

eu e ele, irmãos gêmeos, carne e unha

parecíamos seres virados do avesso

quem nos vissem ali, em cima do monturo,

haveria de perceber que eu e minha sombra

éramos uma caricatura da realidade

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 09/05/2024
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