tu sempre soubestes

Penso em tua ausência, e a ferida se desdobra,

como a terra se abre, maternal, acolhendo seus mortos.

Não era desconhecido para mim que minhas veias

transportavam teu nome diretamente ao coração temerário,

mas observa, este vasto campo outrora se vestiu de flores.

Da mais profunda exaustão, brotou a planta,

nascida da terra fértil, oferecendo aos olhos

a promessa de uma vida inteira.

Teu abraço e teu cuidado eram colunas,

esculpidas pela mais desajeitada das bocas,

oferecendo sombra e referência àqueles cuja pele

não apenas envolvia o corpo, mas também a esperança

de que nada nos faltaria, mesmo sob o sol eterno

que nos vigiava, e bebíamos do mesmo cálice

a mesma ilusão, que só mais tarde reconhecemos:

o horizonte, ao se distanciar, sussurrava que nada termina

neste solo milagroso, onde a alegria era escandalosa,

e tu me beijavas, na verdade, todos recebíamos

os beijos de teus olhos, que continham toda a experiência,

pousando sobre nossa pele mais delicada, explicando-nos

desde a folha da mangueira até o galo que, incansável,

ecoava o mesmo canto, ou por que, após o sol, era

a lua que iluminava o céu, e tua asa, imensa,

mesmo vista à luz do dia, ou na escuridão que se entranha

na noite, beijava teu rosto, e tuas mãos sobre minha cabeça

me protegiam do solo nunca antes perturbado. Então,

como se provássemos do fruto proibido em um dia ensolarado,

fizeste de tua existência um portal

que se abria para além do tangível, e então compreendemos

que já sabias, em teu coração, de muitas coisas desta vida

que nos canta através dos mais formidáveis alvéolos.