MEU PÚBLICO E PRIVADO

MEU PÚBLICO E PRIVADO

 

Quem defende o Estado é livre,

Pois buscar a riqueza é prisão,

Se a partilha é de bom alvitre,

Ou mesmo Jesus não teria razão.

 

Quem divide seu prato com outrem,

Nunca vai ver a dor da miséria,

Pois um dia em um oásis, anotem,

É sentir que a vida é tão séria.

 

Nós somos a razão de um planeta,

Sendo a vida que marca o existir,

Senão, não haveria a sua caneta,

E um papel pra poder lhe servir.

 

Eu, que fui do público e privado,

Vivendo os seus dois hemisférios,

Fui dono e fui o servo empregado,

Que viu o pecado de cada impropério.

 

Quem se apaixona por métodos,

Precisa entender de resultados,

Pois os donos de tudo são netos,

De cada tirano ou principado.

 

Erramos por querermos ser Deus,

Pois não há vaga e nem concurso,

E tudo que existe não será meu,

Mas parte de Deus que logo uso.

 

Eu quero apenas o ar dos campos,

Sentir o orvalho de uma madrugada,

Voar pela noite com os pirilampos,

Andar sobre águas em uma jangada.

 

Também almejo a paz de uma brisa,

Depois de sofrer em meio a tufões,

Poder celebrar o mistério da vida,

Após pulsarem gêiseres e vulcões.

 

Queria poder afagar cada jaguar,

Brincar com as cobras e coelhos,

Prever as marés e a zanga do mar,

Buscando ao vento seus conselhos.

 

Mesmo envergado e quase morto,

Quero ainda meu direito ao chão,

De quem vai rir sobre meu corpo,

Ou carpidar sobre o meu caixão.