Memória e tempo

No poço da memória, minha lembrança desce

Até onde o tempo, desviando-se, mergulha no esquecimento.

Tua nuca, luminescente, emerge

Diante de uma consciência que celebra:

Será suor, este cansaço, ou sangue

Vertendo pelas fissuras da memória?

A vida, uma massa densa, impenetrável,

Guarda seus segredos atrás de portas diversas.

Nós, à espera de definições,

Engolimos o caos como quem engole um enigma,

Um caos onde os nomes nada perguntam,

Mas nos consomem.

Nossas mãos, tremendo em êxtase e febre,

Arrastam sombras, pedras assombradas,

E nossos ombros, ainda puros e vivos,

São encantados, transformados,

Por um coração que insiste e se espalha,

Uma onda que resiste e atropela.

Submergindo no universo,

Os lábios, alvos, complexos,

Ainda úmidos de um beijo,

Me fazem cortejar o tempo,

Ansiando por te capturar mais completa,

Transformar tua forma não em retrato, mas em profundidade.

Aventura-se a fragata em mar aberto,

Sob a sorte e a soberba,

Inscrita no silêncio ou apenas vestida

Pela imaginação em tua nudez.

Amar teu sorriso, desenterrar tuas coxas,

Para que o apetite encontre descanso.

Auroras Boreais, em cada gesto,

Adicionam galáxias à vida, que se expande

Conforme a imaginamos.

Teu hálito, uma esperança fluida e morna,

Tua presença, uma música silenciosa

Que só a exaustão silencia,

Revelando a fragilidade do real,

Uma casa para a solidão necessária.

A vida, breve, formula-se em uma atmosfera de compaixão,

Onde seu fim já está delineado na pele,

Um lembrete de que a vida é sangue veloz,

Um desejo de ser.

E no silêncio, cheio de mundos,

Onde brotam todas as sementes,

O silêncio que torna o ordinário sagrado,

Que revela as portas sagradas das coisas,

Que inventa a semântica permitindo que uma pedra seja também uma árvore,

E seus frutos, filhos de uma carne como a da mãe que me preparou no escuro,

Para que estivesse pronto para enxergar na luz.