frutos doces

Ela, antes de tudo, e depois de tudo,

Só, à margem do rio, sua imagem

Me alcança, fluindo em vertigem

Que a desloca deste mundo, mas simultaneamente

A inscreve mais profundamente no tecido do ser,

Onde os sentidos se entrelaçam, transfigurando o desejo

Em carne viva, inescapável ao nosso olhar.

Sua silhueta, um espectro que transforma o observador

Em um coração sem barreiras,

Aberto para as vozes subterrâneas despertarem

Sentimentos adormecidos, até que a perplexidade

Por um corpo que se oferece

Dissolve qualquer impureza, permitindo a contemplação.

Um sulco no existir, onde desejo e realização

Convergem, emergindo não da razão,

Mas daquele limiar entre o agora e o eterno,

Homem e tempo entrelaçados,

Na pedra madura que sustenta tal graça,

Prometendo um encontro - eu e ela,

Na cuspide da criação, um ventre do mundo.

Um corte no véu da realidade, onde ela não apenas existe,

Mas conjura universos, espaço atemporal de espanto,

Onde ser visto e ser fundem-se,

Embora sua beleza permaneça intocada por tempo e espaço,

Um mito aguardando sua plenitude,

Saboreado como um manjar cujo aroma nos integra à sua essência,

Elevando nossa alma, tornando-nos cúmplices da pedra, da árvore,

Que compreendem este reino revelado pelo poema.

Ela, fora do tempo, movendo-se sem mover,

Seu tempo não pertence a este lugar,

Onde o mistério é tecido tão finamente que nos escapa,

Ainda que ansiamos, como as árvores pelos frutos,

Pela luz que dissipa toda sombra.

Ela, inscrita tanto nas trevas quanto na luz,

Meu amor a encontra em florestas de sombras,

Onde o óleo gera a luz que define formas,

Tornando visível o invisível,

Numa linguagem que transcende as fronteiras.

Ela é o antes e o depois,

Sua existência, um fio que desafia o tempo,

Correndo em paralelo ao futuro,

Na esperança de que seus frutos sejam doces.