PRA SEMENTE

PRA SEMENTE

 

Quando eu morrer, vou deixar,

Somente os sonhos externados,

Que serão o adubo a lhes falar,

Sobre tudo que tive guardado.

 

O meu féretro irá escarnecer,

Com odores talvez putrefatos,

O que fiz ou não fiz pra você,

Pois a morte é o meu distrato.

 

Ninguém vai ficar pra semente,

Muito menos virar pedra de sal,

Mas o meu carbono será o agente,

De qualquer novo ser neandertal.

 

Se soubermos colher e plantar,

Talvez possamos nos surpreender,

Com o prazer de poder degustar,

Sem o risco de não se perder.

 

Temos a necessidade de aprender,

Mas se for pra um uso altruísta,

Pois o resto é sempre o perder,

Quando a vida se esvai na pista.

 

Se eu fosse dirigir sem destino,

Talvez lá eu chegasse num instante,

Mas, sei lá, se não é um desatino,

O que eu queira perto ou distante.

 

Tudo o que ouvimos não existe,

Se não for um objeto pro uso,

Pois a alegria que tanto insiste,

Não está em um quadro recluso.

 

Talvez seja bonito um museu,

Pois dirá o que foi que houve,

Mas nem tudo será de Perseu,

Muito menos Medusa ou Louvre.