Sacred Place

Temos paixões

que brotam das

emoções.

Temos teorias

que nascem de

aporias.

Temos ideais,

utopias, que não

são reais.

Temos sentimento,

mas que dura

breve momento.

(Há três coisas que

perduram: a fé, a

esperança e o amor)

ㅡ Você conheceu alguém

que já alcançou o amor?

ou a fé? ou a esperança?

Ela estava distraída, mas toda vez que eu lhe fazia interrogações, como mágica, ela ouvia. Ela parou e se manteve de costas. Ela segurava uma rosa, “eu acho”, um vento de “través” balançava seus cabelos. Eu via uma abelha voando atrás do pólen da rosa que voava por entre seus cabelos. O seu vestido voava mostrando o contorno de suas pernas. Ela se voltava na minha direção, sorrindo. Ela abaixava a cabeça e vinha andando, pé ante pé, o vento agora tocava atrás de seus cabelos, arremessando-os para a frente, como se algum deus moribundo e resistente tentasse uma última cartada…

Eu a mirava, parado, observava seus pés descalços. Eu era arrebatado a um estado de prazer infantil. Pés descalços, terra, grama. “Ouvia minha mãe dizer para ter cuidado com as vespas e no fundo uma gargalhada que preenchia todo aquele ‘sacred place’”.

Ela se aproximava, enlaçava seus braços ao meu pescoço, aproximava sua boca de meu ouvido e sussurrava: “Eu tenho fé, eu tenho esperança, mas só precisamos de Amor”.

[Or, Or, Or, Or, misturado ao pólen ecoava o amor]

Eu: Você acha que o Amor nos resiste?

Ela: Sim.

Eu: Você acha que o Amor os resiste?

Ela: Sim.

Eu: Você acha que o Amor resiste?

Ela: Não sei.

Quando chegamos em casa, o vento tinha levado algumas telhas e destruído parte da cerca lateral. Tive que ir até a farmácia porque não tínhamos remédio e nem curativo. No caminho parei num posto de gasolina para abastecer o carro, mas estava acontecendo uma promoção e a fila era bem grande de carros. O celular tocava e quando eu atendia ela não me ouvia. Tive que ir em duas farmácias para achar tudo que precisava. Na volta fiquei preso no semáforo do cruzamento, três minutos, assistindo um malabares horrível. Começou a chover, trovoada e o celular tocando. Uma mensagem: “Está chovendo dentro de casa por causa das telhas quebradas, volta logo!” Na esquina de casa, três crianças corriam descalças na chuva e cantavam:

[Or, Or, Or, Or…]

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 17/02/2024
Código do texto: T8000924
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