PENSEI NO PASSADO

PENSEI NO PASSADO

 

Quando a sua agonia passar,

Pode ser que haja um caminho,

Onde eu possa ainda chorar,

Pois na rosa o talo é espinho.

 

Eu pensei no inverno e luar,

Como regra para meu martírio,

Mas eu vi ter seu ódio no ar,

E, por isso, eu sofro o arbítrio.

 

Houve dias de um breve passado,

Onde os sonhos eram poesias,

Tendo a mocidade ao meu lado,

Mesmo com os banhos de bacia.

 

Era tudo em lombo de burro,

Ou nos esgueirando no eito,

Sem o sacolejo de um enduro,

Que só os ricos tinha direito.

 

As estradas da vida eram árduas,

E o meu tempo cobravam em suor,

Na dureza de vida e de mágoas,

Pelas surras de quem veste Dior.

 

Eram tantas suas casas grandes,

Onde o barão sempre ia a Paris,

E a chibata tinha o nosso sangue,

Como a mucama tornou-o feliz.

 

Mas nós fomos os resilientes,

E aguentamos sofrer e morrer,

Mesmo ainda estando ausentes,

De uma copa, sem o que comer.

 

O que nos serviam na senzala,

Eram restos de tudo e lavagem,

Mas nós aprendemos na calada,

A ter feijoada e camaradagem.

 

Ser humano transpira união,

Mesmo tendo prazer na guerra,

E essa doença que tira a razão,

Vai um dia sarar sob a terra.

 

Ao aprendermos o nosso papel,

Veremos que tudo está disposto,

Desde um coentro a um sarapatel,

Mas seremos melhores no gosto.