sussurros

Na verticalidade do instante, a forma evade-se, como se fosse centelha na imensidão da noite, um encontro fugaz entre o sono e a embriaguez, o amante se lançando no vazio, buscando o eterno.

Não como a noite que sucede o dia, nem como o dia que emerge da noite, mas como o desmoronar das certezas, como a bomba que rompe o silêncio, não o fim do amor, nem o desvanecer da beleza, mas como um relâmpago que rasga o céu, um choque súbito.

Ontem, uma voz feminina me chamou de belo, guardei-a no coração, cofre de titânio e ar, junto a ela, outros signos, palavras que acendem o desejo, meu rio há de fluir com a flor mais resistente, mesmo que o crepúsculo traga o sabor do sangue, vermelho, nos mercados do inexplicável.

Uma vez, uma flor de agora, coquete, acendeu uma fogueira no lugar do meu primeiro sopro, inflamável, entregou-se às chamas, murmurando o nome de uma árvore desconhecida.

Ao voltar, era fruta, com uma folha presa ao caule, amei-a, pois conheci seu gosto, e o néctar, ao ser saboreado, sustenta o cosmo, fazendo-o vibrar, sabendo-se devorado.

Cresci reconhecendo que, neste mundo, o seixo brilha como uma borboleta amarela, e as asas, ah, as asas seguem os cavalos em sua corrida,

Enquanto o sol e os átomos, pequenos deuses, partilham o mesmo segredo antigo.

No entanto, nunca os tive, pois algo mais profundo me possuía, e eu, ignorante, nem percebia que eram as coisas, as pequenas coisas, que dominavam, sussurros sobre as pontes, onde o áspero se faz música.