da janela

O vento floresce no jardim vespertino,

uma flor invisível dialoga com as palmeiras,

com os cabelos da bela —

aquela cuja beleza reside na liberdade,

conhecedora dos ventos como a mãe conhece

o filho, suas fomes, suas alegrias.

O vento, errante pela praia, penetra

as vielas da cidade, adocica a tarde da senhora

que tece narrativas para outra alma que também

sabe — o vento se conhece pelo tremular das mangueiras,

pelo respirar da pele, pelo prazer que envolve

os que se deixam devorar por suas inúmeras bocas.

Observo a janela de minha morada abre-se para um mundo

sempre a nos engolir e regurgitar, luminoso ou plúmbeo,

mas pulsante — mesmo quando a tempestade entoa

sua nota mais sombria, ou perfura o destino com um clamor

estridente, sorvemos a bebida mais fresca da existência,

e por paixão, traçamos essa senda breve, intensamente percorrida,

que nos conduz à orla marítima, onde, por vezes, a maré ascende

e nos sussurra segredos lunares, sobre a gravidade que o mar carrega.

Ali nos sentamos. A vida se desenrola perante nossos olhos —

rapazes que jogam bola, moças que desfilam seus futuros,

cada qual com seu destino esboçado ou impresso em folhas de memória.

Não existe outra passagem senão esta do amor, que liberta as pedras

aos olhos, e a sombra ao esquecimento. Discorremos sobre o trivial,

sobre a fome, a sede, sobre a alegria ingênua do cão livre,

ou da folha que dança ao sabor do vento, traçando seu próprio destino.

E assim, dia após dia, renascemos com o alvorecer,

à tarde somos agraciados com a sabedoria,

e à noite, ela nos aguarda, para repousarmos.

E, no fim, todos sobrevivemos melhor com este amor no coração,

sabedores de que em um dia residem tantos outros,

e neles deslizamos, não como meros espectadores, mas como

o mais dedicado público, com candelabros em punho,

iluminando a escuridão com nossas chama

do vento

Na janela, o vento tece enigmas no jardim crepuscular,

uma flor secreta murmura com as palmeiras,

com os fios do cabelo daquela bela —

aquela cujo esplendor se confunde com o efêmero,

entendida dos sussurros do vento como a mãe decifra

o riso e o pranto do filho, suas ânsias, seus encantos.

O vento, errante pelas areias, desvenda

os segredos das ruelas, adoça o crepúsculo da senhora

que entretece sonhos para outra alma que também

percebe — o vento se revela no ondular das mangueiras,

na carícia da pele, no êxtase que circunda

os que se rendem às suas carícias invisíveis.

Da janela de meu refúgio, observo o mundo

em sua eterna dança de devorar e renascer, luminoso ou sombrio,

mas sempre vibrante — mesmo quando a tempestade entoa

seu acorde mais profundo, ou desafia o destino com um brado

cortante, bebemos a essência mais pura do viver,

e, movidos por paixão, percorremos este caminho efêmero, intensamente vivido,

que nos leva até a costa, onde, em momentos, a maré se eleva

e nos confidencia mistérios celestiais, sobre a força que o oceano esconde.

Ali nos acomodamos. A vida se desdobra à nossa frente —

jovens que disputam partidas, moças que passeiam seus sonhos,

cada um com seu destino traçado ou gravado nas páginas da lembrança.

Não há outro caminho além deste do amor, que libera as pedras

aos olhos, e a sombra ao esquecimento. Falamos do cotidiano,

da fome, da sede, da felicidade simples do cão que corre livre,

ou da folha que dança ao capricho do vento, delineando seu próprio rumo.

E assim, a cada dia, renascemos com a aurora,

ao entardecer somos abençoados com o conhecimento,

e à noite, ela nos espera, para descansarmos.

E, no fim, todos encontramos salvação neste amor no coração,

conscientes de que um dia abriga tantos outros,

e neles navegamos, não como simples observadores, mas como

o mais fervoroso dos públicos, com tochas em mãos,

dissipando as trevas com nosso fogo.