O VENTO NA VARANDA

O VENTO NA VARANDA

 

Busquei sentar na boa varanda,

Pensando ser minha por herança,

Mas um dia acordei como panda,

Em uma varanda que não é mansa.

 

Nela, além dos brotos de bambu,

Havia o vento pra me arrepiar,

Mesmo eu não sendo um panda nu,

Com meu pelo na sala de estar.

 

Então vi que a terra é sem dono,

E o que pensei ser meu, não era,

Como a estória que logo inventei,

Pra dizer que o vento me espera.

 

Da varanda eu via a mata densa,

Mesmo após sofrer com o caçador,

O qual foi um primo, às expensas,

Dos ladrões de madeira e valor.

 

Quem caiu do poste com sequelas,

Não foi o gavião, mas um homem,

E quem avançou pelas cancelas,

Mas, ao caçar, virou lobisomem.

 

Foi na saudade daquela varanda,

Que ouvi o sussurro dos ventos,

Varrendo mato e pés de quarana,

Na noite fria, diante do tempo.

 

Tempo sempre agita o terreiro,

E eleva a poeira com as palhas,

Desafiando com o vento ligeiro,

E a leveza do Axé que espalha.