SEXTA-FEIRA PRETA

SEXTA-FEIRA PRETA

 

Todo ano moderno tem sexta-feira,

Mas a propaganda diz que é preta,

Com o estrangeirismo na porteira,

E as ofertas de algum picareta.

 

Acho estranho que tenham dinheiro,

Pois no final do mês estou pobre,

E o mercador não é companheiro,

Pois me faz crer ser rico e nobre.

 

Mas nos meses após cada compra,

Todos se descobrem enganados,

Pois as dívidas são gols contra,

Que pune igual arroto de gado.

 

Eu terei meu nome negativado,

E talvez falte na mesa o pão,

Pois o queijo já foi cortado,

E na dieta nem restou feijão.

 

Todo pobre sofre a vida inteira,

Mas nos dias de festa é pior,

Pois a mídia lhe diz só besteira,

Porque assim pra ela é melhor.

 

Desde quando os clãs se juntaram,

Surgem modos de vida nos burgos,

Criaram regras que nos enganaram,

Com a mais-valia que gera lucros.

 

Mas os lucros nutrem a ganância,

E não foi tudo que o nobre furtou,

Pois ao pobre só resta a infância,

Onde eu não sei quem eu sou.

 

Cada dor hoje é em cada semana,

Ou todo mês, um semestre ou ano,

Não apenas nas sextas de bacana,

Pois o pobre já foi pelo cano.