homem inteiro
O fundo é igual, a sedimentação implacável.
No mais profundo das coisas, as memórias se colam,
se enrolam como uma serpente em mastro invertido,
que é grande para dentro, como um buraco no ventre.
Esse vale fantasmagórico de espectro desolado me
entorta. É dele, de onde a poesia brota, que a sabedoria
prospera. O ganho é tanto que o amor a mim mesmo
flui e prospera. Se não doesse, se não me cansasse,
se não me assustasse. Pois se de um lado é beleza, no
outro é feiura rasteira, da coisa mais morta ao veneno
da boca da cobra. E quando o circuito do mundo, estranho
se torna outro, como se o abismo fosse um óculos que
mede a vida pelo seu fosso, nesse ir e vir, sei que
ele é necessário. Se dele tenho medo, é ele, meu pão
diário, do qual faço poesia, estremeço, crio e me consolo.
Se algum dia eu pudesse ser com ele um outro, outro
que seja eu, porém seguro e amoroso. Pois o valor dessa
queda já tenho em meu bolso. Fiquei rico de conhecimento
de vida com pouco esforço. Só falta eu aceitar que essa
parte é o lado reverso de minha vida, mas também do meu rosto.