e eu fiz minha a minha própria oração

às flores molhadas pela chuva;

às esculturas destruídas pelo tempo;

ao cansaço das palavras;

aos deuses que se devoram;

aos pecados que nos despedaçam;

aos pecados que nos socorrem;

aos pecados que nos traem de nós

mesmos;

aos arrepios que sobem a alma;

aos modos de dizer não;

aos caminhos que ainda percorremos

sem a certeza aonde que iremos;

aos vestidos encardidos de sonhos;

aos atos ingênuos que levam a perversão

aos santuários de orgasmos erguidos em

uma noite;

ao nosso sangue, como vinho,

e à nossa carne, como pão;

aos ladrões de afeto;

aos dias de queda;

aos que pensam demais;

aos que lembram demais,

de quando não doía

ou a dor era menor,

de quando ninguém ia embora,

ou a partida era aos poucos,

de quando podia ter sido diferente;

aos descansos que o coração precisa

para as memórias se tornarem frágeis,

para os cruéis chorarem,

e para os vagantes se encontrarem;

aos amores que a morte encosta,

mas não apavora;

aos poemas ruins

escritos por adolescentes que perderam

tudo o que tinham em uma noite

e no dia seguinte tiveram tudo de novo;

aos estranhos que um dia foram amigos;

aos silêncios que machucam, pois falar

é impossível;

aos solitários que avançam e avançam e

avançam de cabeça erguida e de cabeça

baixa e com as lágrimas guardadas nos

bolsos, pois o buraco no peito foi fechado

para os sentimentos nunca mais fugirem.

ao deus que sou

visto que não existo aos meus olhos,

mas ao reflexo que já fui

e a noção do que serei.

Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 12/06/2023
Código do texto: T7811954
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