Poemas Chuvosos

(I)

Os muros me guardam,

incansáveis sentinelas de cal,

enquanto eu arfo e passo

feito o fantasma de um afogado

pela rua alagada,

vendo minha imagem projetada

na água das poças

como um belo e recalcitrante náufrago urbano.

(II)

A cidade expõe suas luzes,

sua usina de sons e cores,

sua pirotecnia, os carros

mergulham na deriva

irreversível das ruas

e estrelas afogam os dias

em solidão e antidepressivos.

(III)

Olho da janela do apartamento

a cidade engolida pela chuva,

a praça ilhada, as nuvens

enforcando arranha-céus perdidos,

e lá embaixo, como pontos

difusos de semi-sonambúlicos,

sombras disformes bailando

em leve angústia diluída.

(IV)

A chuva se esfarinha

sobre o concreto armado

da seca realidade...

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 10/11/2022
Código do texto: T7646977
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