AVANÇO
Avanço
mesmo que as ruas garantam apenas a ida,
avanço entre mascarados caídos
nas sarjetas e trens fantasmas
repletos de humoristas
Estádios urram bandeiras proscritas
regozijo de urubus às gargalhadas
sobre a carnificina elétrica
das noites criminais
Avanço sem medo vigilantes pulsando
cães guardam as ruas eretos
solitários nos sonhos, os outros,
coletivos apenas nas dúvidas
Mas avançar frente a quê?
qual a razão do avanço
se neste palácio de príncipes banidos
o coringa é manso?
Manso o crime
quando o crime
mais que cotidiano
supre
os buracos
de um sol sem filhos
Em pé na torre
o ancião procura
heróis dentro da neblina
e escuta a cinza caída do sol
interromper as gotas
do sangue amplificado das borboletas
empoçado nas crateras
dos universos mortos
Carros estofados com pele de elefante
provam o valor ridículo
conferido à sabedoria
na posse das luzes vermelhas
o amor é feito
na contagem dos objetos exibidos
fumegantes
sobre bancos de areia
contrabandeada das antiguidades lunares
resta o sexo
como a chave de um comércio,
tenebroso de moedas e adulações
rouco de missas e cantarolências
glória decrépita dos ignorantes
ópera videotráfica dos vícios
O progresso não é resultado
nem da humanidade nem do Acaso
a história é fruto do desencontro
entre catadores de pedras
e visionários caçando joias
e as verdadeiras criaturas
esquecem a forma humana
pois a descrição do amor não cabe
na linguagem dos esqueletos