SALVE-SE QUEM PUDER
Os jornais já vêm manchados de sangue
Do fulano que morreu na fila do trem
Fila do ônibus quebrado
Da comida estragada
Do banco fechado
Tem fila pra sentir o frio escorrer no rostinho bonito
Fila pra geladeira vazia
Tem sangue, espalhado pelas ruas,
das pessoas das fotos
"Esse cara tem que morrer!" Diz aquele que veste a camisa com a frase: "Mais Amor Por Favor!"
Mas sou da paz, você sabe
Tem fila pra entrar na fila
E tem senha
Pelo menos tem lanche
Mas tem fila
Tem senha...
Não deixe de matar a fome de quem tem
Não deixe de fotografar a fome sendo saciada
Pois a fome não é humilhante o bastante
E é para as redes sociais, você sabe...
As redes que nos prendem no imaginário:
"Ponha mais bunda na sua bunda"
"Ponha mais bunda no seu peito"
"Ponha mais bunda na sua tumba"
Não esqueça de agradecer os "likes"
Quando a ciência me cala,
não posso mais pensar, nem falar nada
Só seguir a ciência;
Quando a ciência me liberta da mordaça,
melhor pensar mais um pouco
É preciso consciência e senciência
Com ou sem ciência, percebe?
Você sabe...
Tem um sol que não dorme
Tem outro sol prometido
Tem uma lua cheia vermelha
E às nove e meia da noite, a água é quente
Frios, só os nossos corações...
Quero falar da fome, dos soterrados, dos exilados de guerra, dos animais abandonados...
Mas não sei quais pronomes usar
Que problemão!
"Minhes Amigues", temos problemas de verdade...
Mas não deixe a peteca cair
Não deixe a canoa virar
Não deixe de tirar o primeiro lugar
Não deixe a lona rasgar! "Show must go on..."
Não deixe de votar no ladrão, nas próximas eleições (O que é que tem? Ele rouba, mas faz! Você sabe)!
E o mais importante: Não deixe o doutor sozinho na mesa do jantar
Ainda temos tempo, só não temos tanto
Você sabe...
Portanto, calce suas luvas, coloque seu protetor bucal
Cate seus parafusos e miolos espalhados pelo chão
Mas atenda aos meus pedidos:
- Não se jogue de tão alto, sem um paraquedas
- Não deixe de regar as flores do jardim
* Aqui jaz o último suspiro de um poema que sangra em suas lágrimas
* Mas o poeta, cinzas espalhadas pelo chão, ainda espera ser salvo pelo gongo