A psicologia das flores é misteriosa

despedaçam-se todas em mãos ansiosas

Feito grito de prazer que rasga o peito.

e assim seguem em estranha melancolia

Por serem belas demais

E sentirem a dor desta inegável beleza.

 

Caso fossem como as pedras, a poeira

Pesadas e lúgubres como o tempo

A se acumular entre as rugas

Dos rostos desmaiados dos incrédulos...

Não chorassem o desencanto de ser tanto

Quando tudo é pouco mais que espanto e pranto.

 

Se soubessem da virtude de serem breves

Não eixistirem por mais tempo que um beijo

Adorariam a ideia do próprio sacrifício

E reinariam soberanas na fortaleza da fragilidade.

 

As flores não amam, não precisam amar

Não são reféns da felicidade forasteira

Que um dia passa sem promessa de ficar.

As flores tem luz própria

São estrelas cravadas no chão

Pedacinhos do céu que despencam

Cores infindas, míriades, explosão.  

 

Texto escrito em 1989

 

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