PUNIÇÃO

Todos merecemos a punição.

Ignoramos as festas mais simples

nenhum carro é novo o suficiente

para cessar a cobrança dos seus.

A fé perdeu o mistério e ganhou condição de enriquecimento,

é da cidade aguardar salvadores

mas nós que seguimos de carona

pedimos apenas macarrão instantâneo e aguardente para o resto da noite

aonde o messias deixou as cartas e a indicação?

porque desacreditamos nos falsos ciganos

que vendem crucifixos com palavras estranhas?

os ventos declamam os nomes dos que subiram

quando o trem apitou que não mais vinha

e os cachorros uivaram lamentando os vultos aparecidos na lagoa

nunca mais queimar as carnes atirados na esbórnia do se abandonar à toa

o silêncio é o mais seguro condutor de mensagens

por isso os loucos e os bichos tão atentos ao que parece vazio

e a estrada se mostra brilhante quando grito meu nome de índio

assim, a única fortuna nesta paragem é do dono do bar que guarda a chave do cemitério

porque da poeira sai apenas o caçador buscando diversão e vício

nesta terra em que os poucos jovens ganham o mundo caminhando pela areia depois que o sol se põe e o mapa é aberto acima da tela do luar

onde não restam promessas nem o ridículo dos comícios

e o desejo e a loucura deixam os nomes no cartório que arquiva as contas dos que deixaram as casas

- devendo aos malefícios