CAÍDO

Ao cair da noite,

tu,

que temes a escuridão,

te refugias em lugares claros

e quartos fechados.

Tranca-te a sete chaves

do mundo.

No entanto,

nas ruas um novo reino

toma vida.

É a hora dos deserdados,

dos ébrios

e dos vagabundos

É a hora daqueles

que se alimentam das sombras,

das sobras,

do lixo barato

deixado por

ti.

Predadores urbanos

que saem pra caçar

quando tudo se esconde.

Aquecem-se em afagos

mal cheirosos

durante a soturnidade

da noite.

Tu não os vês

nem os ouves.

Tu tens medo de perceber

que és como

eles.

Teus olhos se fecham

rezando pela manhã,

quando tudo volta ao normal

para ti.

Tu,

que preferes a luz do dia ofuscante

para não ver a realidade

devoradora de fracos.

(In. Epifania)