PEDRA DO DESERTO

Quando alguém ensaia a partida,

vai embora,

Naquela estação de apenas ida,

Nós acenamos com o lenço encharcado,

Tão embebido de chamamentos

Que não o içam os ventos.

Fica inexpressivo o lenço e, pesado rente, ao chão,

Nenhuma memória o denuncia.

Os olhos embaçados não comunicam, então,

Sobre as flores de antigas ladeiras

e das viagens em estradas de perfume ladeadas.

Não mostram as mãos a locomotiva de esperanças (encantada),

Não cantam as vozes, em vales sonoros e verdejantes, a doce toada.

Quando outro chamado domina,

Mesmo que na porta de saída queime uma lágrima teimosa e furtiva,

salgada na pele,

A gente se esquiva.

Na face, a passageira clandestina

Não acredita em vez derradeira

E dela não se fala,

não se dá o braço a torcer à forasteira.

Evita-se que ela seja com firma reconhecida,

Carimbo de batalha perdida,

Ante o silêncio ensurdecedor

Do final de uma bela história de vida.

Embora dela não se fale,

Essa inevitável viagem tem destino certo.

Inventa-se uma mentira no final,

Joga-se a culpa numa pedra do deserto,

Com medo do adeus, diz-se tchau...

Fecha-se a janela e fica a lembrança

Da terrível despedida marginal.

DMM

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 29/05/2021
Reeditado em 30/05/2021
Código do texto: T7267082
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