Tempo antigo

 
No meu tempo que vai antigo,
piá, guri, no Pilarzinho, 
não havia tanto perigo,
vizinho acudia vizinho.
 
Ninguém ousava falar fino
na barbearia do Albino.
 
Computador já tinha, sim,
chamado cérebro eletrônico.
Na escola, lições de latim
e as aulas de canto orfeônico.
 
O alto-falante não assusta,
é serviço do Pedro Chusta.
 
Milk-shake era então o frappé
que eu tomava de quando em vez,
bem melhor que o melhor glacê,
no bar de um bondoso francês.
 
Todo mundo ouvia calado
os discursos do seu Machado.
 
Salsicha, que se chama vina,
tinha no açougue do alemão.
Comprava, e ao dobrar uma esquina,
já tinha comido um montão.
 
Era festivo como a dália
o riso alto da dona Anália.
 
Na garrafa de boca ampliada,
o leite na porta de casa
era posto de madrugada,
mas no fogão já tinha brasa.
 
O circo Queirolo, famoso,
no lote do doutor Barrozo.
 
Tloc, tloc, tloc!  Lá vinha o padeiro
na carroça com seus pãezinhos,
mal tinha passado o leiteiro...
Era o trote dos cavalinhos.
 
Cores de alpargatas de pano
no armazém do velho Milano.
 
Festival no campo do Vasco,
na saibreira do Gabiroba.
Música, futebol, churrasco
à sombra de algumas perobas.
 
O serviço é barato e honesto
na carpintaria do Ernesto.
 
E se vão por aí afora
lembranças do meu tempo antigo.
Obrigado, senhor, senhora,
por terdes vós me dado ouvidos.
 
 
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N. do A. – Na ilustração, soltura do balão gigante do Vasco da Gama Futebol Clube, em 23 de junho de 1963. Foto de Rubens Kintopp, um morador do Pilarzinho, Curitiba, Paraná, bairro onde o autor nasceu e cresceu e, de certa forma, ainda mora.

João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 28/07/2020
Reeditado em 15/06/2022
Código do texto: T7019462
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