amanhecer no domingo

Quando estamos juntos,

Sinto uma saudade que eu nem sabia possuir,

De um momento que me orgulho de merecer,

Som de passarinhos, luz entrando pela janela,

Mil vontades para continuar deitado,

Mesmo quando amanhece no domingo;

Uma delas é passar a vida enrolando

os meus dedos nesses cachinhos,

Desenrolando meus nós nos beijos de língua,

Segurando seu rosto como um punhado de hortênsias,

Ficar alisando as sobrancelhas com os dedos,

Encarando como se procurasse a oitava maravilha;

Estou por toda parte e com as mãos sobre você,

Suas palavras acalmando a minha dor,

Alguma esquecida que atina a me afligir,

Se você fosse carcereiro e eu prisioneiro no subsolo,

Queria pena perpétua, vendo teu corpo relaxado

nas minhas mãos, Te juntando num pedaço;

A bala de caramelo com maracujá desmancha na boca,

Ao pensar em ti me descascando e bebendo feito vitamina,

Queria derreter o seu corpo com a boca, mãos e poesia,

Sua roupa mais íntima parece uma caixa dos prazeres,

Nunca vi uma mas a minha teria o formato do teu corpo;

Queria passar a noite inteira trocando ideias e beijos,

Sentir seu aroma enquanto senta e a brisa toca seus cachos,

Uma noite de orgia com as estrelas - ou voyerismo delas,

Abraçados, rebolando, dizendo coisas de amor,

Respiração de dois corpos juntos,

Me morda para não gemer tão alto;

Vou deitar, livro numa mão e tua coxa na outra,

Confio em você para guardar meu sono,

É o máximo que posso confiar a alguém,

Amanhã, vou acordar só pra ter o vislumbre,

Da tua companhia na cama bagunçada,

Morrer de amores num amanhecer no domingo;

(Data: 29 de Fevereiro de 2020)

¹Referência a Memórias do Subsolo do livro homônimo de Fiódor Dostoievski

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