QUEM ME DERA...

Quem me dera ser Florbela,

Olhar feminino em busca do ser para além do indivíduo

"Quem me dera encontrar o verso puro".

Quem me dera ser Bandeira

Irmanada na arte para expressar a dor

E reviver Bandeira e Espanca resumidos em sentimento e amor.

Quem me dera ser Drummond,

Ter todos os sonhos do mundo, mesmo não sendo uma rima, mas ser a solução

Mediadora entre realidade e indivíduo.

Quem me dera, Ferreira Gullar

Poder preencher espaços com gente dentro, gente, trabalho, amor e respeito

Simples como era seu jeito,

Levar o poema ao limite da sonoridade, romper com formalismos, ser popular,

Ter um Poema Sujo, para a gente brindar

E que este nos limpasse a alma e que pudesse aliviada despertar.

Quem dera, gritar

Que meu povo é meu poema, quem me dera Gullar!

Quem me dera Cecília, a sua linguagem plástica,

O corte de sua palavra honesta, Clarice, a dor que ela carrega,

A objetividade de Graciliano, funda e seca de vida atávica.

De Veríssimo a romântica poesia em prosa,

A pureza sertaneja de Guimarães Rosa.

Quem me dera a genialidade Machadiana,

Que me aprofundasse em gênesis e eu entendesse a inveja entre os irmãos Esaú e Jacó,

Entendesse as dualidades e contradições da vida.

Compreendesse o "mudar para manter tudo como está" vaticinado

Tão precocemente no romance de Machado.

Quem me dera ser árcade,

Símbolo da simplicidade, nos rincões

Quem me dera, da poesia lusa

Herdá-la como herdou Dinamene, a musa,

O lirismo oceânico de Camões.

Quem me dera, Casimiro, voltar aos meus oito anos,

Eu já passada de sessenta janeiros, com tanta lida,

Saber dizer das saudades da aurora da minha vida

E elevar-me à altura byroniana sem medo,

À lira ingênua e romântica de Álvares de Azevedo.

Quem me dera a capacidade

De reconhecer de Drummond a humildade

E admitir que meu coração não é maior que o mundo,

É, na pura e grande verdade, menor, muito menor, no fundo.

Mas, Drummond, caro poeta, aí encontrando

Por acaso o original Fernando,

Nosso grande Pessoa,

Diga-lhe que entre seus tantos

Gosto muito de Álvaro de Campos

E que, tal qual o dele, o gajo

Meu coração também não aprendeu a serenidade,

Meu coração não aprendeu nada, quem me dera

Uma pequena sonhadora do Sul, brasileira

"só seria como os bons de ontem e de hoje,

Se tivesse sido eles".

Quem me dera...

Dalva Molina Mansano

18.02.2019

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 18/02/2020
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