Contemplação

A janela aberta por onde venta

um ar frio que perpassa a fenda

do corpo onde o espírito assenta

como se preso num pano a renda.

Entram também algumas ideias

que incomodam desde sempre

e ela em busca de si por panaceias

mas, “Não há quem lembre!”

A janela faz-lhe lembrar o templo

e o tempo que sua mãe devotava

e ela era: “Não contemplo!”

e sua mãe a exortava.

Pela janela entra a mãe com o vento

e sua voz sussurra em exortação

e ela nada, sem sentimento,

sem lágrimas, sem emoção.

Leu a Bíblia: de Gênesis a Apocalipse.

Leu os santos, os sábios e a Filosofia.

Nada de revelação, somente eclipse,

sem sossego, sem sabedoria.

Uma foto de sua mãe: na arca da sala.

O Livro aberto: sobre a mesa de centro.

A mãe imóvel e enfim sem fala.

O vento apagando as letras de dentro.

Fecha a janela e destrói o templo,

sem vento, sem presença, ela só,

só agora: “Contemplo! Contemplo!”

Não há pano, nem renda, só o pó!

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 09/12/2019
Código do texto: T6814835
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