Mais a sério.

Rio, 07.11.2019.

Mais a sério.

Rio de Janeiro, você bem

que podia ser menos folia.

Cidade vadia, eu te queria

mais lady na mesa.

Menos batuque, menos cerveja.

Mais consciência para que o teu

povo se leve mais a sério.

Daqui de cima, do teleférico,

qualquer um reconhece que há mistério,

até o ateu admite que Deus existe

diante do teu sagrado visual aéreo.

Rio de janeiro a beleza persiste,

mas venho aqui triste te dizer que

em teu seio a vida anda osso.

E o tal impávido colosso que te abriga?

Cidadãos à deriva, na batida cão sem dono.

E você tão bonito e poluído

segue num total abandono.

Nosso Flamengo até vai bem,

mas a nega Teresa anda

sofrendo na fila do SISREG.

A bença são Sebastião e se

há benção por fazer nos entregue.

O Rio anda abatido,

convalescente e ardendo em febre.

E o menino do Rio hoje não provoca mais arrepio,

só sente calafrio de indignação e temor.

A garota de Ipanema está tão preocupada

com o assaltante que não

pensa mais no amor.

Rio de Janeiro, não fica bravo comigo

que eu te amo apesar de tudo isso e para muito além. Você é a minha inspiração, meu poema bonito,

a pintura em que habito e que me faz tão bem.

Mas escuta o que eu digo,

pois tu és um território vivo,

Não és como tantas outras cidades sem sal:

Adoça o nosso recinto com o

teu pão de açúcar que já nos bastam

as lágrimas (salgadas) de Portugal.

O Cristo visto da lagoa, a música que ressoa,

e tudo o mais, que a gente já sabe,

te faz a pérola do hemisfério.

Menos batuque, menos cerveja,

Mais consciência para que teu povo

se leve mais a sério.

Clayton Márcio.