As curvas das voltas que o mundo dá.

Rio, 30.09.2019.

As curvas das voltas que o mundo dá.

Sei que eu já

Comecei depois da

Última posição,

E que quando deram a largada

Eu apenas caminhava

Sem rumo ou direção.

Eu sempre tive

A nítida percepção

De não estar no páreo,

Mas competir nunca

Foi o meu foco prioritário.

Eu sempre preferi

Parar pra dar amparo,

E fui (por assim dizer)

Ficando pra trás.

Seguindo na condição

De desvantagem

Que Deus me deu.

Me preocupando mais

Com a segurança do

Itinerário alheio

Do que com o meu.

É que na verdade eu nunca

Quis ganhar sozinho,

Já que não me puzeram lá

Na frente eu sempre busquei,

Quase que o tempo inteiro,

Auxiliar os que estavam

Ainda atrás de mim

A chegar primeiro.

E por assim ser eu pude

Ver o pôr do sol mais bonito,

Sentir a brisa que vem, para muito

Além do pódio, do infinito.

Eu pude parar pra respirar

E identificar o doce e

Especial aroma das flores,

Eu tive tempo pra entender

Que focar em vencer te faz

Passar batido dos mais

Vívidos amores.

Eu pude ouvir o som do mar,

As vezes harmônico, as vezes feroz,

Margeando esse imenso

E insano mundo atroz.

Mas eu quero que me ouça,

Você que está com o troféu nas mãos,

Você que ostenta essa postura

Altiva e soberba de campeão.

Eu estou distante,

Daí da frente talvez

Você nunca me possa escutar.

Mas eu estou dentro das curvas

Das voltas que o mundo dá,

Não se surpreenda se

Um dia uma hora eu chegar lá.

Clayton Márcio.