corsários da terra
a eternidade de Rimbaud me invadiu
como um mar violento que se transborda
destroçando meu corpo
expulsando os órgãos
me limpando da matéria podre humana
agora sou só eu in natura
imatura
esperando ficar pronta
para ser devolvida ao mundo
nascer das entranhas da terra
eu me lembro
do meu primeiro nascimento
numa aldeia indígena
nascia mais uma com os cabelos
tão negros como a asa da graúna
com o corpo de uma raiz rica
que alimentava a carne e a alma
morri de uma doença branca
que não sei o nome
essa é a minha história
e a de todos que aqui nasceram
filhos da terra
sangue e vinho derramados no convés
autos para os tolos,
eles pensavam
nascemos de novo
e olha como estamos
mais uma vez
exercendo os podres poderes
nas terras de outrora
onde não há esperança,
futuro
ciência e paciência,
suplício seguro.