aquarela mórbida

as ruas me levam

pra onde eu não sei

uma gota de chuva

cai sobre meu nariz

olho pros tetos,

traço projetos

mas nada me seduz

os bares da esquina

e as tuas meninas

nada me atrai aqui

os cabelos lisos,

os corpos rijos

isso não me faz feliz

o tempo é um outro

e tudo é tão pouco

quando aqui estou

a vida é tão bela

que pena que ela

não me faz sorrir

os meninos bobos,

são tortos e tolos

ninguém me prende aqui

será que será que tudo

assim ficará?

ou será que

você talvez surja a pintar

por aqui

os muros, as escolas

os apartamentos

e dentro de mim

com

a cor que colore

o cinza mais cinza

que não desbota no sol

que não escorre

que não descasca

quero essa cor

que não existe

cores de Frida,

cores coloridas

uma cor de Almodóvar

que vá pintar

toda essa tristeza

cobrir com tinta ácida

pra queimar as dores

mas não tanto

pra que não derretam

os amores.