Tudo que cessa é morte (1), estamos mortos.
Cessamos de existir no espelho que nos unia,
quando duvidamos da imagem que nos refletia.
Não somos mais nada
talvez recordação apagada,
dessas que invocamos em surtos de alegria.

Agora, me pergunto: qual de nós morreu primeiro?
Queria saber para destilar este luto,
prantear o morto certo que se foi.
Saber se devo, agora, chorar por ti
e por mim somente depois?

Ou então nossa morte foi simultânea
rara comoriência, desastre naturais.
Pois sendo assim, morremos juntos
tua morte e a minha, entrelaçadas
como mãos eternamente enamoradas.

Tudo que cessa é morte,
cessamos, estamos mortos,
genéticamente sós.


* Poema escrito em 1997
(1) Verso de Fernando Pessoa

Crédito da imagem: https://aminoapps.com/c/potter-amino-em-portugues/page/blog/o-espelho-de-dois-sentidos/d76j_3etbuEK6akLMKgDwxVqdGgN1nEZNM