Não se tem mais tango argentino

Desculpe, Manuel,

mas não se tem mais tango argentino para tocar.

Nem para dançar.

Há muita desesperança para os pés se mexerem.

E para as mãos se moverem.

E mesmo que haja dança, ou toque,

Ela já é triste e frágil.

Ela já é acabada mesmo que um dia chegue a começar.

Os pés já se confundem e já são sozinhos.

Dança sem parceiro.

Na solidão de um salão imenso chamado Brasil.

Dança sem técnica, dança sem passo.

Acabou, Manuel.

Em outros tempos seria justo dizer que nós somos a própria música.

Mas já não se tem a melodia, nem o barulho, nem o som.

Somos apenas passos confusos no silêncio.

Pelo menos você ainda tinha como contar com o tango argentino.

Nina Cerqueira
Enviado por Nina Cerqueira em 07/10/2018
Reeditado em 08/10/2018
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