Não se tem mais tango argentino
Desculpe, Manuel,
mas não se tem mais tango argentino para tocar.
Nem para dançar.
Há muita desesperança para os pés se mexerem.
E para as mãos se moverem.
E mesmo que haja dança, ou toque,
Ela já é triste e frágil.
Ela já é acabada mesmo que um dia chegue a começar.
Os pés já se confundem e já são sozinhos.
Dança sem parceiro.
Na solidão de um salão imenso chamado Brasil.
Dança sem técnica, dança sem passo.
Acabou, Manuel.
Em outros tempos seria justo dizer que nós somos a própria música.
Mas já não se tem a melodia, nem o barulho, nem o som.
Somos apenas passos confusos no silêncio.
Pelo menos você ainda tinha como contar com o tango argentino.