SelfAedo: Ode I

Era um tronco de árvore negro e estranho,

A ansiedade tomava conta do sujeito.

Cuidado! Pode ser mais um louco ferrenho;

Chegou ao ponto, sendo mais um preconceito:

Jornada do leitor para com o escritor

Em busca do romance, ou talvez de um amor.

Não se canse, me espere, estou chegando já

Mas aqui estou, então, o que posso dizer:

Somos protagonistas, e assim saberá

Que juntos somos um a cada instante em ler,

Sou seu retrato lido neste verso agora,

Embora seja poeta que perdeu sua hora.

O fundo todo branco, e o negro arvoredo

Que sensação estranha imaginar assim.

O que poderia ser afinal? Um segredo,

Ou uma peça mental que começou do fim?

Deixo-te a tua vontade, conta-me a história

Sem medo de morrer para ter a sua glória.

O coração da gente parece um fantasma

Habitado por seres de lacunas frias,

Não sei cantar nem ópera, nada entusiasma

Fiz isso pra rimar, por isso não te rias;

Queria te ver dançar, sorrir noite e ao dia

Como sou o teu espelho, a nova alegoria.

Podia ser alegria, só para combinar,

Mas brinco sem perder linha do raciocínio,

Pois assim; assim mesmo, posso um dia chegar

Num outro lado a tempo e obter seu fascínio.

A cena desenhada numa folha branca

Para quem te deixou como uma asa-branca.

Cada passo, som, música e ao ouvir silêncio.

A distância entre nós, marcado no momento,

Sinto toda sua frágil pele fosse incenso,

O toque da leitura o nosso ardil memento,

Beijar-te pela alma, e gozar desta vida

Que ainda nos resta pouco da doce bebida.

Imagina um vampiro com sede e carente:

O que te esconde? Máscara ou seu próprio medo?

Em cada artéria pulsa o meu chamado quente,

Um vinho que transmuta em perene rubedo.

Assim te dou meu corpo em troca de seu pneuma

A loucura nos faça, extravase em celeuma.

Então antes estranho, agora talvez íntimo,

Desenhou numa folha seu estranho desejo,

Desejo-lhe ser contigo, em um detalhe ínfimo,

O infinito talvez, o eterno ou todo ensejo.

Afetuosa ironia que pelo menos deixa

Um néctar de seu lábios, vem cá e me beija.

Como assim? Se o encontro torne uma peleja?

Fluir numa direção que nem pouco esperamos.

Quem na arte pouco brinca, quem canta ou troveja

Não improvisa o tempo, e diz: nada possamos.

Lembra dos trovadores, e dos albigenses

Andarilhos do mundo, Cercamon, viventes.

Há quem diz que trovar: é compor, discutir,

Inventar… Ou sonhar, diria uma trovadora.

Deixe mais quieto a boca, aprenda como ouvir

E uma hora chegará primavera vindoura.

Deste que foi cruzar, trouxe sangue e mais dor,

Porém, o sacrifício foi em nome do amor.

Gentil amor, risonha face, arte liberta

E prazer de viver - hoje viva o devir!

Quando a luz soa, a canção voa, te toca e concerta;

Noite vem, ascender dentro de ti, e fletir

O que há de mais belo nunca descoberto

Antes de conhecer, boa fé, fora secreto.

Seja sabedoria, gentileza de criança,

Afável como flor e de radiante agir -

De olhar que busque tanto um bem como mudança,

Uma dança, um elo que faça sorrir.

Tanto que logo o logos estará em vigília,

Torne-se mais que nova, uma estrela que brilha.