O despojado. (soneto gótico)

Calcinado corpo repousa sobre a pedra fria.

Ao redor cartilhas são lidas para sua unção

Vozes moídas em preces o leva a cova rasa

O desprovido que velado foi por todo um dia.

Acerbas explanações são tecidas sem expressão

Ainda assim: entremeados boatos são ouvidos

Em alusão ao miserável que desce a aba frígida

Em choro copioso a prelada aparece num repente.

No fúnebre teatro, o cenário continua sem agitação

Espigões de cruzes erguem-se de mausoléus variados.

Nos braços das adagas, centenas de corvos deliram

No campanário, do campo santo os sinos badalam

Anunciando à comitiva, que os portões se fecharam

Encerrando mais um formal, de mais um sepultamento