PEDRAS DO MUNDO

PEDRA QUE ME PEGA

Eu cato a pedra com a mão
tanjo as galinhas os bois
jogo-a com estilingue, como foi
no varal lá de Maria...
Acerto o sol e na cabeleira de Zé
ali pelo fim do dia...
E a noite, derrubo estrelas
para o sonho das minhas alegrias.

Eu cato a pedra faço estatua
tiro-a do meu sonho
e do meu frenesi tristonho
coloco-a n'um pedestal
enterro o abandono
clico as pedras de vidros e dos rins
lá no telhado, faço um susto cair
e deixo ela rolar por ai.

Eu cato a pedra
jogo-a nos dez quadros do amarelinho
faço piaba na poça e no rio
construo muro, muralha trilho
e saio tropicando de manhã cedinho
pelas pedras sem pavio...
Nas duras pedras do ninho.

Eu cato a pedra e faço
parede pesada da vida
vou moldando bicos e rabiscos
da fera feia ferida...
Pisando os pedregulhos
da pendenga d'essas dividas.

Eu seguro a pedra
que me empurra p'ra baixo
afundando-me no buraco
das sombras corriqueiras
mergulho com ela...
Nas águas de lagrimas construída
e no suporte de sustentação,
das raízes das laranjeiras
Antonio Montes
Amontesferr
Enviado por Amontesferr em 27/04/2018
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