já não consigo pensar no tempo
já não consigo pensar no tempo
como o insistente ponteiro de um relógio
em seu retorno angustiante
ao marco zero
antes
inunda-me o mar de suas dimensões
invadindo-me em cada canto deserto
e percebo e sinto e toco
o chão das outras vidas, as que não tive
as pessoas que não conheci
as guerras que não travei
o amor que nunca senti que nunca sentirei
que apenas posso sentir agora
neste momento sem horas nem beiras
me vêm como entrando numa sala vazia
os ecos dos canteiros de pedra
onde os insetos depositam ovos
e as pessoas tropeçam em sua jornada
meu espaço é agora
meu tempo é onde estou
e ainda que tenha em mim tudo o que não tive
e tenha vivido nesses instantes o que nunca viverei
que tenha tanto amado como nunca o saberei
repouso meu olhar sobre a janela
e sinto o vento que passa pelos
lírios.