SAPO BEIÇUDO

Eu falo da renovação do apocalipse

das legiões de mendigos

que o céu vomita nas ruas

Deuses de carne podre

amassam fedentinamente

os seios em forma de lagos da Terra

afundando

feito pupilas na hora do desmaio

e o fogo que urra pelas ruas é uma

figura desesperada de cabeleira e nuvem

de rendas e o o fogo perfumado

como se o inferno amasse a primavera

num incesto

E esse sol perfuma o universo com hálito vermelho-amoníaco

gosto do Sol devorado à mesa coberto de misérias

E a moral?

te abocanha feito um sapo beiçudo

dentuço e canibal

O campeão? o campeão

balança o sexo impotente

à meia-noite em pé

num vagão enferrujado.

E o céu arrota o som do eclipse

pela longa boca enjoada

e de nojo

comerei o raio que a tempestade

me atirou

quando derrapamos

na curva sem saída

onde a lua injeta heroína

no olho-pântano

e a morte fuça latas de lixo

miséria cristã! santificando desdentados

num altar de latas vazias.