Dias nublados

O dia passou nublado e cinzento. No coração dela, aquela tristeza se agigantou de mansinho. Mas logo deu lugar a resiliência. Ela não tem medo da chuva. Não foi feita de açúcar ou de sal. Ela gosta dos dias nublados, pois eles trazem a calmaria para a agitação cotidiana, a preguiça de um bom cobertor, a meninice de tomar chocolate quente (ou chá de camomila). Nesses dias nublados, as pessoas tendem a pensar mais, a refletir mais, a ser mais. Por isso, se tornam mais interessantes de serem observadas por essa menina que enxerga através das lentes grandes. As pessoas são mais elas mesmas, sem se importarem com a opinião alheia.

A maioria das pessoas reclamam dos dias nublados. Contudo, a chuva vem de mansinho levando em sua torrente as coisas tristes e nos motivando a sair de nossas fortalezas e dançar na chuva. Nesses dias, a garoa dança nos vidros das janelas, os pingos de chuva fazem poc poc no telhado, as notificações não chegam, a eletricidade às vezes nos vai embora e nos obriga a ver além da escuridão.

Justamente nesses dias ela consegue voltar ao seu próprio caminho, aos seus livros, ao seu computador (porque ela ainda não tem sua máquina de escrever), as palavras que a alegram, sobretudo, aos braços do amante gentil e intenso, com a paciência de Jó, que sempre a acolhe: o silêncio.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 20/02/2018
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