Veneno bom

Nenhum estímulo me incitava.

Deserto total, infertilidade... Silêncio.

Pior talvez: a vontade definhando.

Apetite se esvaindo,

De uma fome que se supunha eterna.

Temia andar em círculos.

Repetir o óbvio e já desgastado.

Repisar as mesmas serpentes.

Mirar muros intransponíveis.

Braços curtos, pernas cansadas.

Não fingia tristeza.

Estava deveras triste.

Provisoriamente morto.

Queimando a reserva.

“Fotosintetizando” no escuro.

Pausa, pausa, pausa...

Escutei agora um coração que bate.

Algo, senão os versos, está me transformando.

“Endoterapia” da palavra.

Corre nas veias um veneno bom.

Que alívio...

Estou salvo!