Infância!
É fácil lembrar da infância
Das peraltices sem fim
Comendo melancia
Tocando fogo em capim
Um fumaceiro medonho
Que sufocava e fedia
Se escutava o estrondo
Da chinela na madeira
Era mamãe que dizia:
Faz fila pra apanhar
Seus mal criados
Vou ensinar pra vocês
Que é ser endireitado
Quando eu era menina
Assim falava mamãe
Eu brincava de casinha
As bonecas enterrava
No velório eu rezava
Ave Maria com uma ruma de graça
Mamãe nem desconfiava
Que eu enterrava as bonecas
E quando elas sumiam
Eu fazia aquela festa
Pois sabia que não morreriam
As minhas pobres bonecas
Sabia que dali a pouco
Elas levantariam
Iam passar pro outro lado
Pois elas nunca morreriam
Pois os mortos que eu via
Assustavam minha mãe
Então as vezes eu não falava
Da vida dos mortos sãos
Hoje parece sinistro
Pra muitos isso, escutar
Mas as brincadeiras que tinha
Que me faziam apanhar
E hoje não saberia
Se criança, hoje eu fosse
Com que eu brincaria?!
Não chegaria aos pés
Das minhas traquinagem
Triângulo, bila, peão
Mal me quer é bem me quer
Pera uva maçã
Roda, elástico baladeira
E também de assombração.