Aos Poetas do Absurdo
Aos poetas do absurdo
Escritores do nonsense
Estes que falam pra surdos
E escrevem pra quem não pensa
Meus gritos enfurecidos
De Bravo de Oba e de Viva
Meus aplausos esquecidos
Modelos símbolos e Divas
Sim não importa quem seja
Que escreva essa poesia
Que nos fala o dia a dia
Sem enfeites ou rodeios
Essas palavras sem freios
Sem limites ou fronteiras
São elas as mais verdadeiras
Mesmo expressando agonia
Que falem e que escrevam
Sobre a dor dos corações
Sobre nossas solidões
Sobre a tristeza de alguns
Sobre a beleza de uns
Sobre o canto de tristeza
Sobre o quebrar os pratos
sobre o virar a mesa
Gritem no silêncio das letras
Grifadas e em caixa alta
Aos nossos ouvidos de lontras
Que nos assusta e assalta
Nos faz tremer e pensar
Mastigar cada palavra
Que como enxada lavra
Nossas mentes entorpecidas
Nos faz sangrar em feridas
Chorar e se maldizer
E em muito nos faz sofrer
E lembrar nossas desditas
Ah poetas vós sabeis
Sim eu sei todos vocês
Sabem a dor que nos causam
Numa alegoria tosca
Nos apertam feito rosca
Fazem pequenos modelos
Que servem de pesadelos
São sapatos que nos calçam
Gravatas tão apertadas
O fôlego vem nos tirar
Com seus versos a nos gritar
Verdades que não queremos
Mentiras que nós sabemos
Só servem para enganar
Viva o poeta do agouro
Que como vaqueiro torpe
Vai nos tangendo no acoite
Arrasta-nos ao matadouro
Nos sangra ainda em vida
Em corte lento e profundo
Mostrando-nos esse mundo
Expondo a nossa ferida
E quando fala da flor
Da rosa e sua beleza
Não deixa de com franqueza
Falar também do espinho
Não são poetas mesquinhos
São poetas do agora
Poetas que sofre e chora
E que escreve sua dor
São corvos negros profanos
Que no esquentar dos panos
Nos revelam sem segredos
Os sutis desassossegos
Que nos impregnam o sono
Poetas do abandono
Poetas da própria vida
E que da dor mais sentida
É ele o próprio dono
Três vivas a estes poetas
Três vivas aos escritores
Que não só falam de amores
E nos trazem outras metas
O propósito de causar
E de nos fazer pensar
Na vida e suas dores
Lagos profundo e insanos
Que no passar de mil anos
Ainda resiste ao tempo
Ao fogo a água e ao vento
Que burila a pedra dura
Poetas de vis agruras
De réquiens tristes e solenes
Poetas que nos acenem
Com sua escrita maldita
Seja ele e sua escrita
Sem término e sempre perene
Viva meu poeta viva
Viva e fale da morte
Fale do azar da sorte
Fale sim da catacumba
Da cruz da lápide imunda
Do epitáfio escrito
Seja poeta maldito
Que em palavras nos afunda
No pântano de tua escrita
Que tua poesia maldita
Nos envenene a alma
Que nos tire a própria calma
Com teu jeito esquisito
Que nos aflija o espírito
Que nos revele o feio
Prenda-nos em seus arreios
Suas cordas e mordaças
Dê-nos o veneno na taça
De tuas letras ferinas
Bata-nos com rei de crinas
De cavalos amedrontados
Transforme-nos em danados
Revele-nos nossa sina
Perdão a todo escritor
A todo poeta descente
Mas precisava urgente
Desabafar em falácias
Verborragia sem graça
Que expõe minha demência.
Farias Israel