Desaguadeiro

O poema que segue é sobre pedofilia. Esse tema está em vários poemas que escrevo, mas de uma forma meio camuflada. Um dos meus eu-líricos é o Marcio criança, vítima de pedofilia. Quem me conhece, consegue enxergá-la.

Ela está sempre lá, nos símbolos, metáforas, alegorias...

Dia desses publiquei as três primeiras estrofes desse poema e um amigo resolveu musicá-lo. Como precisei metrificá-lo e alterar alguns trechos, resolvi acrescentar outras estrofes e o resultado vocês encontram abaixo.

Nesse poema, a primeira pessoa sou eu, em criança; a terceira, é quem essa criança gostaria de ter sido.

DESAGUADEIRO

Sou desaguadeiro,

Salinidade.

Tu, por inteiro;

Eu, pela metade.

Tu, luz rutilante,

Fonte de vida;

Eu, tão inconstante,

Sempre de partida...

Tu, florescente -

Lucidez e clarão;

Eu, um demente

Sem salvação...

Sou despenhadeiro,

Obscuridade.

Tu, bom candeeiro,

Luminosidade.

Tu, riso incessante,

Aura florida;

Eu, acre rompante,

Semblante sofrido...

Tu, sempre adiante -

Altivez e amplidão;

Eu, indolente,

Sem direção...

Tu, florescente -

Lucidez e clarão;

Eu, um demente

Sem salvação...

Tu, sempre adiante -

Altivez e amplidão;

Eu, indolente,

Sem direção...