Das janelas do meu ego
Meus olhos vazios mirando o mundo
Pela vista seca de um sol covarde
Me engole e me arde;
Ilumina tudo e não me deixa ser
O mistério do fundo faz não mergulhar
Tateio a vida em horrendos desfechos
Eu percorro trechos;
E então gizo metas sem as alcançar
Meus dedos cansados que não tocam nada
Meu corpo exausto sem predileção
Meus passos tão tortos, minha rota eivada
De vícios dos quais eu não quero abrir mão
Mira meus pés, vê-los disformes!
Sente a vida que se derreteu!
Sinto às vezes a brisa de abril
Mostrando-me o riso que se escondeu
Segurei nas mãos de um anjo de fogo
Queimou-me e partiu; deixou-me sem "eu"
O achei entre asas tão redentoras
Perdi-o achando que já era meu
...
Deixa-me arder em brasa outra vez
Para entender os teus olhos tão raros
Para fitar teu sorriso esperado
Para perder-me em insensatez
Para quedar-me em teu colo-amparo;
Para sentir o mundo todo de vez.