Contraste

Contraste

A mulher e a criança moram próximas,

Tão próximas que habitam o mesmo espaço,

O mesmo ser.

Dividem o mesmo corpo,

A mesma alma,

O mesmo coração.

Convivem as duas pacificamente.

Não se estranham,

Não se chocam,

Não se enfrentam.

Apenas coexistem e se completam.

Como dois rios que se encontram e deságuam no mesmo mar,

Como duas notas que se unem sob a mesma harmonia.

Amo as duas,

Ambas me conquistam.

Amo a inocência da criança,

Amo a intensidade da mulher.

Alegra-me o sorriso da criança,

Comovem-me as lágrimas da mulher.

Conquista-me a pureza da criança,

Desnudam-me os sussurros da mulher.

Navego sobre os sonhos da criança,

Deslizo entre os desejos da mulher.

Encontro-me nos abraços da criança,

Perco-me nas carícias da mulher.

Atrai-me a ingenuidade da criança,

Seduz-me a sensualidade da mulher.

Encanta-me a fragilidade da criança,

Fascina-me a força da mulher.

A criança é feita de promessas,

A mulher é feita de adivinhações.

A criança é coberta de mistérios,

A mulher, coberta de insinuações.

A presença da criança me suaviza,

O silêncio da mulher me paralisa.

Ante os olhos da criança eu me procuro,

Ante os beijos da mulher eu me sacio.

Ante os caprichos da criança eu me vigio,

Ante os impulsos da mulher eu me abandono.

Ante a magia da criança me hipnotizo,

Ante os feitiços da mulher eu me escravizo.

Nas mãos macias da criança eu me liberto,

Nos fortes laços da mulher eu me aprisiono.

A visita da criança eu espero,

Pela vinda da mulher eu anseio.

O toque da criança me conforta,

O toque da mulher meu ser desperta.

A voz da criança me ensina,

A voz da mulher a mim comanda.

A criança encerra em si uma floresta de encantos,

A mulher anuncia um infinito mar de prazeres.

Diante da criança, sinto-me um menino,

Diante da mulher, sinto-me um deus.

A criança roga mansa, meus cuidados,

A mulher me proporciona proteção.

O olhar da criança é uma luz,

Cuja luminosidade é infinita,

O olhar da mulher é um incêndio,

Cujo fogo me consome, embriaga e excita.

Porém, entre qual delas decidir,

Se as duas têm minh’alma por refém,

Se a criança diz que a ela devo ir,

Se, insistente, a mulher me Clama “Vem!”?

Pelas duas optou meu coração,

Porque ele foi capaz de perceber,

Que a mulher e a criança em questão,

São metades do teu majestoso ser.

Hebane Lucácius