ESCRAVA

Não tive infância, sequer me lembro
Tiraram a minha liberdade, já não posso voar
Acorrentada jogada no porão frio
Congelada a minha alma de mulher
Grito por dentro NÃO SOU ESCRAVA
Mas quem ouvirá o meu lamentar

Vendida, trocada, jogada sem valor
Em terras longínquas da pátria mãe
Em trabalhos braçais dia e noite
Sem recompensa pelos esforços
Gritavam aos meus ouvidos: ESCRAVA
Mas calada sufocava os meus dizeres

Meus sonhos de mulher desfeitos
Sem família jogada na senzala
No chão frio sem sentir o calor
Os dias são prolongados, não passa
As noites são rápidas, ACORDA ESCRAVA
Gritam constantemente aos ouvidos

À mercê dos açoites dos feitores
Usada, subjulgada e desmerecida
Alma que se corrói por dentro
Nas lágrimas que me molham a face
Longe do meu lar, ESCRAVA dos brancos
Que afiam suas facas em minha pele nua...

foto: Lupita Nyong'o (filme: 12 anos de Escravidão)