Perspectivas (ou: tentando encontrar o ângulo)
Você nunca sabe qual é a perspectiva favorável
Antes de ser tarde demais. A questão é elementar:
A fileira da frente ou a última. Mesmo assim, você hesita.
Com o barulho de vozes cruzadas no salão
Até os lustres enlouqueciam com rumores de ventos.
Foi quando os atores entraram
Fantasiados com todos os tipos de máscaras
Pancake branca e bastante para ocultar
Quais personagens. Você está confuso e não sabe
Distinguir o bom do ruim. Está tudo bem. É difícil
Por esses dias. Mas com as luzes vermelhas apagadas
É menos perigoso. Há aplausos e comoção.
Quando procura a seção de perdidos
& perdidos, encontra somente a fotografia
De tantas pessoas, menos a sua.
Então você pisca e perde o momento
Crucial da peça. Em que compreenderia.
Você estava lá, apenas esperando
– E quem não estava – por alguma cena extraordinária
Porque estava exausto da monotonia, do ócio
Dos dias imitando os dias. Pensou:
E se. Está tudo tão errado que só pode.
Tudo agora é possível. Tudo
Possivelmente cênico. Ou seria cínico.
Enfim sentou-se na última fileira
Onde a distância espacial pretende ser segura
E tão grande quanto a emocional.
Afinal de contas, é o seu lugar.
Você reservou um lugar no mundo
Com as suas convicções.
Elas o constringem como um cinto de segurança -
Necessário e um pouco sufocante.
Mas então, e se elas?
Estaria arruinado ou inconsolavel-
Mente livre?
Não. Você está certo.
Você só pode estar certo.
Você daria um pulmão para estar certo.
Daria o pulmão dos outros também.
De todo o complexo enredo, reteve só a advertência
Subliminar: “Baseado em fatos ficcionais”
Dispensada qualquer exigência de verossimilhança.
Eis que, enfim, é a sua hora de brilhar:
Eles o arrastariam para o meio do palco
Mas você terá se voluntariado
Desde o primeiro momento -
O show tem de continuar. Está quase
Lá: qualquer espetáculo é admirável
Quando se assiste à tragédia
– Até mesmo à sua –
Pelos olhos do antagonista.