Caporal

Aja naturalmente, aja como se teu aniversário não estivesse próximo

ou como se a morte imperativa rondasse distritos minoritários para além de teus belos cantos.

Aja sem a necessidade paliativa de irrisórios frutos do mar a por à mesa a tua carne, tua boca,

teu feno embriagado de sol pelo pouco espanto.

Como se teu aniversário não estivesse próximo.

Outro destino percorre, preside e não molesta o corpo amargo em teu quintal.

Dizem que faz parte ao verbete absoluto a moição impingida ao pequeno terrível

quando de braços ao caporal;

o coração um estorvo e meramente arrebentado pela sopa, pelo jato de sopa,

pelo resquício de sopa desses intragáveis que marcham com suas bandeiras vermelhas

tremulando o vigor de uma nova estupidez poética;

e teu corpo em receio, sem estado de graças.

Eu estufaria meus seios redondos de amor petrificado de mãe se acaso te visse,

quiçá um olhar para dentro e o estuporar com que te faço fratello

e tua boca para mim um destino.

Mas, agora que descubro teu nome como parte do meu, deixo ao palimpsesto um aviso:

dois para sempre dissonantes conforme as escrituras, muito embora teu ombro...

a disposição e sem rodeios, como a disposição e sem rodeios o óbice itifálico

ao cair do dia quando agarrados em ti mais que vinte ladrões em teu cenho -

e fecharias a mão se acaso necessitassem carinhos para além do cuspe jorrado?

Foi um estupro - meramente desdizem teus versos apócrifos e doloridos de sodoma,

mas eles não desdizem teu olhar arrastado, teu fardo de Éden, tua real necessidade ao expurgo

pelo ombro cansado de teu primeiro marido.

E se eu te fizesse um consolo?

Por tudo contigo do mesmo nome convirjo: impressão digital de crimes compostos

quando uma infantilidade torniqueteando o duplo coração interdito.

E sinto o teu crime e os gritos favorecidos de malta.

Me irrequieto por ti.

Me deslumbro por ti.

Quanto de tua paciente morfina usurparam por te tomarem sodoma!

E foste sodoma! por teres meramente existido já não era sem tempo a vulgata

de teu coração andarilho - projeto multiface de prostitutas ao tempo.

Vejo teu pequeno útero itifálico no cerne de tua mamãe e deslumbro -

por não saber existir,

por ter comprimido bastante os meus primeiros beijos

e descartado a penumbra quando intata.

E já não tive dor.

E não promulgo receios se contigo a margem sincera com que se advém um fonema!

E nisto vai-se bastante. Uma lufada, um golfo, colcha térmica, restolho de amores intransponíveis.

Ah, para que a ilusão dos últimos braços dados,

da última anestesia conjuntural se já não fomos amantes?

Isto deveria de ser uma reza, um grito morno trespassando vontades

e, no entanto, cá não estamos a saber o mesmo de nós?

Eu me despeço, Rimbaud, fazendo ao meu nome o feno caporal

com que interpões tuas vísceras aquando a parte de mim.

Guilherme Furtado
Enviado por Guilherme Furtado em 03/08/2017
Reeditado em 03/08/2017
Código do texto: T6072717
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