Ultimato

Madrugada insana

Voa ávida neste gole

De tamanha sina

De não ter ninguém aqui.

Vê se não sorri de mim

Não mereço tamanho desprezo

Por viver assim...

Escuta, não é culpa minha

Se o mundo anda na contramão

Se a bala não é doce

E tanto corpo veste

A roupa que não é de festa

E na fresta desse telhado

Eu me acabo em mais um gole

De tamanha dor

Sou de carne, mas também tenho dó

Da lágrima derradeira

De quem esperou tanto

Por quem não há de chegar

Chegue cá e me dê um abraço

Madruga insana

Eu já chorei a lágrima

Que guardei para você.

Escuta, ouço de longe um barulho

Nem sei se foi tiro

Ou qualquer coisa assim

Sei que o corpo é moço

E sorri para mim.

Não sei de onde veio a bala

Só sei que ela se instala

E não quer sair...

Hoje haverá embrulho -

Corpo mudo - de alguém

Que não se despediu de ti

Necessito de mais um gole,

Não me amole,

Vê se me engole

Enquanto vou dormir...

Porque não tenho culpa

Se o mundo anda assim...