Um poema para Gonçalves Dias

Série: 1 - Homenagens.

Um poema para Gonçalves Dias

Amélia Luz – Pirapetinga/MG/Brasil

Da tua boca tirarei o verbo e me embriagarei

das tuas emoções e metáforas...

Da tua garganta tirarei a vida

e beberei o sonho, o desejo, a canção, o sumo,

a tua multiplicidade em profundezas...

Tirarei a cena, o palco, as luzes

o sentimento, o riso e a lágrima: o teatro!

Seremos então, nós mesmos,

eu e a tua fala, o teu gemido,

o teu discurso que tua alma exala...

Ouvirei palavras dispersas

vejo-te, no reflexo delas,

águas cristalinas que fluem

lapidando pedras disformes...

Afundarei num mar de emoções desconhecidas,

balbucios, sussurros, confissões e sermões.

Amanhã, o outro lado verei,

a lenda, o conto, a página, o drama, a poesia!

Viajarei na imprensa contraditória de cada dia

buscando-te sempre a companhia!

Silêncio... Há um vento estranho

Trazendo nas asas mistérios do norte:

“Guerreiros, descendo da tribo Tupi

Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.”...

É preciso reviver a palavra que brotou na madrugada

nos lábios inocentes do poeta que partiu,

girassóis de alegria, depois do despontar do dia

que arranca a treva das mãos da noite

celebrando e soletrando versos e rimas...

Eis a herança enraizada do fundamento

Que ora me deixas na expressão lírica,

Indianista, saudosista, religiosa,

Medieval ou épica das nossas puras tradições.

Poeta, “Ai, não me deixes, não!”

Que eu seja a tua flor e tu a força da correnteza,

Leva-me nas tuas águas, ah! (afundo), “Não me deixaste, não”!